(ENEM PPL - 2019) Para que a passagem da produo ininterrupta de novidade a seu consumo seja feita continuamente, h necessidade de mecanismos, de engrenagens. Uma espcie de grande mquina industrial, incitante, tentacular, entra em ao. Mas bem depressa a simples lei da oferta e da procura segundo as necessidades no vale mais: preciso excitar a demanda, excitar o acontecimento, provoc-lo, espica-lo, fabric-lo, pois a modernidade se alimenta disso. CAUQUELIN, A. Arte contempornea: uma introduo. So Paulo: Martins Fontes, 2005 (adaptado). No contexto da arte contempornea, o texto da autora Anne Cauquelin reflete aes que explicitam
(ENEM PPL - 2019) O craque crespo Desde que Neymar despontou no futebol, uma de suas marcas registradas o cabelo. Sempre com um visual novo a cada campeonato. Mas nesses anos de carreira ainda faltava o dolo fazer uma apario nos gramados com seu cabelo crespo natural, que ele assumiu recentemente para a alegria e a autoestima dos meninos cacheados que sonham ser craques um dia. difcil assumir os cachos e abandonar a ditadura do alisamento em um mundo onde o cabelo liso tido como o padro de beleza ideal. Quando conseguimos fazer a transio capilar, esse gesto nos aproxima da nossa real identidade e nos empodera. Falo por experincia prpria. Passei 30 anos usando cabelos lisos e j nem me lembrava de como eram meus fios naturais. Recuperar a textura crespa, para alm do cuidado esttico, foi um ato poltico, de aceitao, de autorreconhecimento e de redescoberta da minha negritude. O discurso dos fios naturais tem ganhado uma representao cada vez mais positiva, valorizando a volta dos cachos sem cair no esteretipo do extico, muito comum no Brasil. O cabelo crespo, definitivamente, no uma moda passageira. Toro que para Neymar tambm no seja. Alexandra Loras ex-consulesa da Frana em So Paulo, empresria, consultora de empresas e autora de livros. LORAS, A. O craque crespo. Disponvel em: http://diplomatique.org.br. Acesso em: 1 set. 2017. Considerando os procedimentos argumentativos presentes nesse texto, infere-se que o objetivo da autora
(ENEM PPL - 2019) Cano No desequilbrio dos mares, as proas giram sozinhas Numa das naves que afundaram que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os sculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto. Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre guas e areias, cegaram como os das esttuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrana do movimento. E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e s talvez ele ainda viva dentro destas guas sem fim. MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.).Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Na composio do poema, o tom elegaco e solene manifesta uma concepo de lirismo fundada na
(ENEM PPL - 2019) Frenagens geram calor. O sistema de freios transforma a energia cintica do movimento em energia trmica por meio do atrito entre as pastilhas de freio e os discos. Em duas linhas, esse o princpio de funcionamento do freio. Mas h um efeito colateral. Esse calor gerado provoca fadiga dos discos e pastilhas e compromete a eficincia do conjunto de freios. O disco de freio slido uma pea s, feita de ferro macio. A vantagem est em custar mais barato que os outros. Contudo, tem baixo rendimento em situaes extremas de frenagem (em descidas de serras, por exemplo) por no ter estruturas que favoream seu resfriamento. Por isso, discos slidos so usados em aplicaes mais leves, comuns no eixo dianteiro dos compactos 1.0 e no eixo traseiro de carros maiores, como seds e SUVs mdios. O modelo ventilado, por sua vez, formado por dois discos mais finos unidos por uma cmara interna que tem a funo de proporcionar uma passagem do ar entre eles, resfriando com mais rapidez o conjunto. Eles esto nos eixos dianteiros dos compactos mais potentes. Mas tambm aparecem nos eixos traseiros de carros esportivos. Mas esportivos com motores de alto desempenho e carros de luxo tm discos perfurados. H pequenos furos no disco com o objetivo de aumentar o atrito e dispersar o calor. RODRIGUEZ, H. Disponvel em: http://quatrorodas.abril.com.br. Acesso em: 22 ago. 2017 (adaptado). O texto mostra diferentes tipos de discos de freio e defende a eficcia de um modelo sobre o outro. Para convencer o leitor disso, o autor utiliza o recurso de
(ENEM PPL - 2019) A Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por cus de ouro e prpura raiados, Fogem... Fecha-se a plpebra do dia... Delineiam-se alm da serrania Os vrtices de chamas aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia. Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe ndoa avulta e cresce A sombra proporo que a luz recua. A natureza aptica esmaece... Pouco a pouco, entre as rvores, a lua Surge trmula, trmula... Anoitece. CORRA, R. Disponvel em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017. Composio de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado poesia parnasiana. No poema de Raimundo Corra, remete(m) a essa esttica
(ENEM PPL - 2019) O debate sobre o conceito de sade refere-se importncia de minimizar a simplificao que abrange o entendimento do senso comum sobre esse fenmeno. possvel entend-lo de modo reducionista, to somente, luz dos pressupostos biolgicos e das associaes estatsticas presentes nos estudos epidemiolgicos. Os problemas que da decorrem so: a) o foco centra-se na doena; b) a culpabilizao do indivduo frente sua prpria doena; c) a crena na possibilidade de resoluo do problema encerrando-se uma suposta causa, a qual recai no processo de medicalizao; d) a naturalizao da doena; e) o ceticismo em relao contribuio de diferentes saberes para auxiliar na compreenso dos fenmenos relacionados sade. BAGRICHEVSKY, M. et al. Consideraes tericas acerca das questes relacionadas promoo da sade. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; ESTEVO, A. (Org.). A sade em debate na educao fsica. Blumenau: Edibes, 2003. O texto apresenta uma reflexo crtica sobre o conceito de sade, que deve ser entendida mediante
(ENEM PPL - 2019) Menino de cidade Papai, voc deixa eu ter um cachorro no meu stio? Deixo. E um porquinhoda-ndia? E ariranha? E macaco e quatro cabritos? E duzentos e vinte pombas? E um boi? E vaca? E rinoceronte? Rinoceronte no pode. T bem, mas cavalo pode, no pode? O stio apenas um terreno no estado do Rio sem maiores perspectivas imediatas. Mas o garoto precisa acreditar no stio como outras pessoas precisam acreditar no cu. O cu dele exatamente o da festa folclrica, a bicharada toda e ele, que nasceu no Rio e vive nesta cidade sem animais. CAMPOS, P. M. Bal do pato e outras crnicas. So Paulo: tica, 1988. Nessa crnica, a repetio de estruturas sintticas, alm de fazer o texto progredir, ainda contribui para a construo de seu sentido,
(ENEM PPL - 2019) As informaes presentes na campanha contra o bullying evidenciam a inteno de
(ENEM PPL - 2019) H casais que jogam com os sonhos como se jogassem tnis. Ficam espera do momento certo para a cortada. O jogo de tnis assim: recebe-se o sonho do outro para destru-lo, arrebent-lo como bolha de sabo. O que se busca ter razo e o que se ganha o distanciamento. Aqui, quem ganha, sempre perde. J no frescobol diferente. O sonho do outro um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se sonho, coisa delicada, do corao. Assim cresce o amor. Ningum ganha para que os dois ganhem. E se deseja ento que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim ALVES, R. Tnis X Frescobol. As melhores crnicas de Rubem Alves. Campinas: Papirus, 2012. O texto de Rubem Alves faz uma analogia entre dois jogos que utilizam raquetes e as diferentes formas de as pessoas se relacionarem afetivamente, de modo que
(ENEM PPL - 2019) As cores Maria Alice abandonou o livro onde seus dedos longos liam uma histria de amor. Em seu pequeno mundo de volumes, de cheiros, de sons, todas aquelas palavras eram a perptua renovao dos mistrios em cujo seio sua imaginao se perdia. [...] Como seria cor e o que seria? [...]. Era, com certeza, a nota marcante de todas as coisas para aqueles cujos olhos viam, aqueles olhos que tantas vezes palpara com inveja calada e que se fechavam, quando os tocava, sensveis como pssaros assustados, palpitantes de vida, sob seus dedos trmulos, que diziam ser claros. Que seria o claro, afinal? Algo que aprendera, de h muito, ser igual ao branco. [...] E agora Maria Alice voltava outra vez ao Instituto. E ao grande amigo que l conhecera. [...]. Lembrava-se da ternura daquela voz, da beleza daquela voz. De como se adivinhavam entre dezenas de outros e suas mos se encontravam. De como as palavras de amor tinham irrompido e suas bocas se encontrado... De como um dia seus pais haviam surgido inesperadamente no Instituto e a haviam levado sala do diretor e se haviam queixado da falta de vigilncia e moralidade no estabelecimento. E de como, no momento em que a retiravam e quando ela disse que pretendia se despedir de um amigo pelo qual tinha grande afeio e com quem se queria casar, o pai exclamara, horrorizado: Voc no tem juzo, criatura? Casar-se com um mulato? Nunca! Mulato era cor. Estava longe aquele dia. Estava longe o Instituto, ao qual no saberia voltar, do qual nunca mais tivera notcia, e do qual somente restara o privilgio de caminhar sozinha pelo reino dos livros, to parecido com a vida dos outros, to cheio de cores... LESSA, O. Seleta de Orgenes Lessa. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1973. No texto, a condio da personagem e os desdobramentos da narrativa conduzem o leitor a compreender o(a)
(ENEM PPL - 2019) Prezada senhorita, Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabelio juramentado Francisco Guedes, estabelecido Rua da Praia, nmero 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazns Penalva, conceituada firma desta praa, no me restar, em face dos novos e pesados encargos, tempo til para os deveres conjugais. Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Associao dos Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa Jos de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrcio e admirador, Sabugosa de Castro CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Bergatim no atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1971. A explorao da variao lingustica um elemento que pode provocar situaes cmicas. Nesse texto, o tom de humor decorre da incompatibilidade entre
(ENEM PPL - 2019) A identificao simblica que existe na cultura esportiva pode ser um fator determinante nas aes potencialmente agressivas dos espectadores e torcedores de futebol. Essa identificao em indivduos que no tm uma identidade prpria pode lev-los a no perceber os limites entre a sua vida e a sua equipe, ou entre a sua vida e a vida de um dolo (jogador), e, dessa forma, passar a viver suas emoes basicamente por meio de acontecimentos esportivos, do sucesso e da derrota de seu clube predileto. Alguns dos torcedores organizados dedicam a vida sua torcida. Vivem para ela e, por ela, chegam a perder qualquer outra referncia, pois essa experincia compensatria que lhes d identidade. A probabilidade de um indivduo se tornar um torcedor fantico est diretamente relacionada com a construo da sua identidade. Por isso, imprescindvel o desenvolvimento de relaes e valores prprios que o ajudaro a delinear o limite entre ele e a sua equipe, ou entre ele e um jogador de futebol. REIS, H. H. B. Futebol e violncia. Campinas: Armazm do Ip; Autores Associados, 2006 (adaptado). Partindo da discusso sobre as relaes entre o torcedor e seu clube, observa-se que o fanatismo futebolstico
(ENEM PPL - 2019) Como a percepo do tempo muda de acordo com a lngua Lnguas diferentes descrevem o tempo de maneiras distintas e as palavras usadas para falar sobre ele moldam nossa percepo de sua passagem. O estudo Distoro temporal whorfiana: representando durao por meio da ampulheta da lngua, publicado no jornal da APA (Associao Americana de Psicologia), mostra que conceitos abstratos, como a percepo da durao do tempo, no so universais. Os autores no s verificaram uma mudana da percepo temporal conforme a lngua falada como observaram que a transio de uma lngua para outra por um mesmo indivduo modificava sua estimativa de uma durao de tempo. Isso implica que vises diferentes de tempo convivem no crebro de um indivduo bilngue. O fato de que pessoas bilngues transitam entre essas diferentes formas de estimar o tempo sem esforo e inconscientemente se encaixa nas evidncias crescentes que demonstram a facilidade com que a linguagem se entremeia furtivamente em nossos sentidos mais bsicos, incluindo nossas emoes, percepo visual e, agora, ao que parece, nossa sensao de tempo, disse o pesquisador ao site Quartz. LIMA, J. D. Disponvel em: www.nexojornal.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017. O texto relata experincias e resultados de um estudo que reconhece a importncia
(ENEM PPL - 2019) O instrumento feito de lminas metlicas e cabaa comum a manifestaes musicais na frica e no Brasil. Nos textos, apesar de figurarem em contextos geogrficos separados pelo Oceano Atlntico e terem cerca de um sculo de distanciamento temporal, a semelhana do instrumento demonstra a
(ENEM PPL - 2019) No digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma educao muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e no tem podido, por conseguinte, escapar implacvel maledicncia dos fluminenses. Demais, est habituada ao luxo, ao luxo da rua, que o mais caro; em casa arranjam-se ela e a tia sabe Deus como. No mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que apenas comeas e no tens ainda onde cair morto. Enfim, s um homem: faze o que bem te parecer. Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos motivos autorizada, calaram no nimo do bacharel. Intimamente ele estimava que o velho amigo de seu pai o dissuadisse de requestar a moa, no pelas consequncias morais do casamento, mas pela obrigao, que este lhe impunha, de satisfazer uma dvida de vinte contos de ris, quando, apesar de todos os seus esforos, no conseguira at ento pr de parte nem o tero daquela quantia. AZEVEDO, A. A dvida. Disponvel em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017. O texto, publicado no fim do sculo XIX, traz tona representaes sociais da sociedade brasileira da poca. Em consonncia com a esttica realista, traos da viso crtica do narrador manifestam-se na